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carol

Carolina Drago nasceu em Santa Maria/RS, em 1989, e desde 2008 mora no Rio de Janeiro/RJ. Escreve, definitivamente, porque não sabe nem pintar nem dançar – mas também por ter certa paciência com as palavras. Fez jornalismo, é casada com o Ricardo, tem uma empresa de marketing digital, dois blogs, um pug (!) e dá consultoria a novos autores. “na esquina do caos” é seu primeiro livro de poesias.

a descoberta

By refletindo No Comments

Até aqui achava que planejar tudo antes me levaria com mais segurança ao meu destino. Lembraria das metas graças aos post’its coloridos espalhados pelos espelhos da casa. Listas previamente criadas para me garantir conforto e paz. Conheceria o chão, sua textura, cor, a altura exata pra não despencar (imagine?). Mas então tudo mudou. 

Comecei essa jornada de dentro pra fora, mas um dentro tão novo que eu mal o conhecia. Sem um método claro, e não porque não quisesse ter um, me vi tateando o escuro rumo ao brutal desconhecido. A altura do chão tinha virado um penhasco sobre o qual eu me debruçava com e sem medo. Cada passo era tudo e nada. Finalmente o espelho havia ficado nu, e agora eu me via. Quem sou eu?

O processo de crescer intelectualmente é assim mesmo. “Orgânico”, pra usar um termo da moda. Acompanha a dialética profunda do eu, movimento que nos espreme e lança longe, pra então espremer de novo. Aprender quando já se acreditou estar formado é como estar diante de um amontoado de tijolos que não se encaixam. Ainda.

O começo é quase um caos, pelo menos para mim. Traz desconforto e dor, o contrário da paz e da segurança de antes. Do zero encaixe ao primeiro um por cento leva tempo, mas quando acontece é como um milagre, no sentido de que parece mesmo ter a mão de Deus.

Planejar tudo antes para se chegar com mais segurança ao destino pode parecer sensato aos desavisados, mas não é: saber o que se procura (ou rejeita) é, sim, fundamental na jornada, mas querer dar os passos antes do caminho não parece certo. Ao menos não no aprendizado, esse aprendizado espontâneo, responsável, cujos planos se atualizam a cada minuto (ou assim deveriam), e por isso os post’its caducam tão logo são colados. 

Mas isso eu só percebo agora. Talvez porque finalmente sinta o peso do que procuro, e não me contente com nada menos do que o ato.

retiro

By novos poemas One Comment

a solidão nunca foi estranhamento, senão a irmã mais velha que não tive. na infância me juntei aos livros como quem pede um amigo pra brincar. mal sabia que viria com bagagem, carregando muito mais do que brinquedos. 

depois veio a solidão real – a de deixar o ninho pra crescer de fato. as madrugadas viraram confidentes, conselheiras da vida real. pra que mesmo terapia se se tem a noite inteira? todas as estrelas se transformam na resposta. até mesmo pras perguntas que não tive.

hoje é mais um desses dias, de olhar pra dentro. porque é a isso que a solidão chama, e muitas vezes nos convoca pelo nome. um mergulho interior sem volta, não sem tocar o chão da própria alma. e entender se ela (ainda) é um lugar bom, e se há espaço para a própria companhia

do lado de lá

By novos poemas No Comments

Há 20 anos meu avô partia, pouco depois de completar 70 anos. Morávamos em outra cidade e viajamos para nos despedir. Eu era criança e não fui ao enterro, fiquei com a minha prima em casa: passamos o tempo lembrando e rindo das boas memórias do vô. Desde então minha avó viveu, todos os dias, na expectativa desse reencontro. Ele aconteceu no último dia 28, um mês depois de ela completar 90 anos. Eu, que vejo sinal em tudo, logo concluí: eles realmente se encontraram. E, mesmo no caos em que vivemos, sem poder nos despedir, tendo que ressignificar o luto, a despedida, os abraços, isso aqueceu meu coração. Não pudemos viajar, então passamos de longe resgatando as boas memórias. Descanse em paz, vozinha. Obrigada por me ensinar tanto sobre o amor, por fazer minha cama caber no seu quarto, por crer na minha “bola de cristal”. Te amo.

novo outono

By novos poemas No Comments

Com o tempo a gente aprende tanta coisa, depois de tanto conselho, tanto silêncio, a gente aprende muito mais que as estações do ano, que o preço do aluguel, que o cheiro das margaridas. A gente aprende a filtrar os desconselhos, a aceitar os inimigos, a abraçar as dores. Depois de muitos invernos a gente entende que florir só depende de nós, e que a chegada do verão requer, sim, paciência. Com o tempo a gente percebe que de nada valeu guardar tanta roupa, que de nada valeu guardar tanta mágoa. Que amanhã pode ser um dia melhor que hoje, mas também que hoje pode ser melhor que semana passada. A gente pode demorar, porque aprender leva tempo, mas o que importa é que a gente vai entender, muitas vezes lá pelo fim da estrada, que o valor das coisas depende mais da leveza do olhar que do peso das moedas. A gente vai entender que nem todo sorriso sorri, que nem toda lágrima chora, que o que a gente vê nem sempre é. Tanta coisa será dita, sim, mas só escute mesmo o que falar à sua alma. Muita gente vai julgar o que você é, o que deveria ter sido, seus sonhos, seus planos, seu emprego, seu desemprego e sua falta de sonhos e planos. Muita gente vai lhe dizer que o caminho poderia ser outro, que você deveria ser outro, ter sido outra coisa mais entendível por todos, como se parecer fizesse mais sentido que tentar encontrar aquela chave de ouro que em algum planeta estranho ousaram chamar felicidade. E às voltas com tantos dizeres, pesares pesados sobre o que devemos, pode ser que a gente perca um tempinho decifrando esse mundo-quebra-cabeça de oitocentas mil peças. Mas no fim – e isso requer mais tempo que espaço – vamos entender que tudo é mais simples que um dia pensamos, que viver faz todo o sentido, que amar dá sentido a tudo. Porque no fim – mas isso exige parar um segundo – vamos contemplar tudo se encaixando como se já tivesse sido escrito, as linhas tortas de Alguém que nos escreve em seu Livro.

7 dicas para publicar o primeiro livro

By dicas literárias No Comments

[post de 2015, por Carolina Drago]

Amigos autores,

Começo este post com um trecho de entrevista do escritor angolano Gonçalo M. Tavares. Diz ele que quem escreve deve se desligar do ato de publicar, não se entusiasmar logo com os primeiros textos. “Um escritor não precisa publicar um livro. Escrita e publicação não são sinônimos.”

Mas, calma, isso não é uma sentença! – não quer dizer que quem escreve não deva publicar nunca. É que o tempo da escrita, para o autor, é um tempo diferente – mais cuidadoso, menos ansioso. “Quando somos rápidos é porque já fomos muito lentos. Só é possível acelerar quando já se teve muito tempo a ser paciente.”

Gonçalo mesmo só publicou seu primeiro livro depois dos 30. Até aí, uns dez anos mais ou menos, tirou para ler e escrever – muito!

O resultado foram 4 livros publicados quase em sequência, mais de 20 em menos de dez anos, duas dezenas de prêmios e tradução para 36 línguas. E também o espanto (!) de José Saramago com tamanha competência: “Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!”.

Escutar hoje este conselho – do tempo da escrita – é no mínimo um alento. Claro que publicar é o sonho de todo escritor, mas e antes disso? O que sabemos (ou procuramos saber) do caminho que nos leva de uma ponta à outra?

Por isso este post (que dividi em duas partes, considerando uma ordem mais ou menos cronológica).

Lembrando que as dicas do título não são para consumo rápido, tampouco pílulas de promessas mágicas. Ao contrário: destinam-se ao autor em formação, ao escritor que se entende parte de um processo maior – e que, sim, ultrapassa assinar um livro.

[DICA 1] NÃO DEIXE A LEITURA DE LADO

Refleti muito sobre incluir esta – porque parece óbvia e desgastada – quando esbarrei num cenário, que nos é bem conhecido, de que ainda são muitos os autores iniciantes que apenas escrevem. Não leem, apenas escrevem.

(Daí precisarmos falar sobre isso.)

Sim, você quer ser escritor e deve investir nisso, mas não dá para esquecer como e onde tudo começa. Ler é básico, obrigatório e o grande ‘segredo’ para quem sonha/precisa escrever bem. Mais do que isso, é a maior (e melhor) escola de qualquer escritor – onde se vai buscar a matéria-prima, a técnica, o ritmo, e até a inspiração.

Mas ler o quê?, muitos perguntam. A resposta é o mais ampla possível: ler de tudo, ler para, ler por que. Como disse, é o começo de tudo.

O escritor Alberto Mussa fez uma listinha de conselhos de que gosto muito:

  1. NÃO LEIA POR HÁBITO

“Um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas (…), mas é essencialmente lúdica, como devem ser as coisas que nos dão prazer.”

  1. VARIE OS GÊNEROS

“A grande literatura está espalhada, nenhum gênero é, em tese, superior a outro. (…) história, memórias, reportagem, divulgação científica – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.”

  1. LEIA OS NACIONAIS

“Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX [Machado de Assis], um dos cinco maiores do século XX [Guimarães Rosa] e dos maiores dramaturgos de todos os tempos [Nelson Rodrigues].”

Entendida a lição, lembro aos novos autores que não basta ter lido os clássicos (que são, sim, fundamentais, devem estar no topo da lista!): se você quer ser escritor hoje, terá que conhecer também os autores da sua geração, com quem vai dialogar – na literatura e na prática. Quem são, o que escrevem, por que o escrevem.

Comece a garimpar os autores premiados nos últimos anos, que tiveram seus textos elogiados pela crítica, pelos blogs literários.

As duas listas abaixo, que recomendam autores/romances nacionais contemporâneos, são pra te guiar neste começo:

20 MELHORES JOVENS ESCRITORES BRASILEIROS

OS 15 MELHORES ROMANCES BRASILEIROS DO SÉCULO 21

São um bom ponto de partida, mas não se contente com elas. Como todo bom autor, vá além e descubra um mundo novo

[DICA 2] FAÇA (BONS) CURSOS

Por mais que você se considere pronto, não há dúvidas de que a escrita é um processo de aprimoramento constante. Ler é o começo, mas praticar (e errar) também faz parte do caminho.

Os cursos voltados a aspirantes a autor são basicamente de dois tipos: mais técnicos, focados em particularidades dos gêneros (a trama num romance, o ritmo num conto, a palavra na poesia), ou mais criativos, e aí se voltam à percepção, a uma quase desnaturalização do nosso olhar sobre o mundo.

Se seu gênero é o romance, que requer cuidados bem específicos, conhecer como autores experientes lidam com os desafios pode te ajudar a encurtar seu caminho. Se sua escrita é mais lúdica, como a poesia ou prosa poética, os cursos criativos te darão muito do que precisa ^^

As oficinas são o ponto alto, já que dão a oportunidade rara de trocar com quem já atravessou algumas fronteiras. Ter feedbacks do que se está produzindo, compartilhar desafios com colegas de ofício, ter de reescrever o que já considerava acabado…

Tudo isso enriquece sua produção, te faz lembrar que o caminho é longo e lento – e que há beleza nisto também.

Tire um tempinho para acompanhar os portais culturais da sua cidade, que costumam espalhar essa programação literária. Para quem é do Rio, dicas extras de alguns espaços especiais:

Opções de espaços de curso no RJ

ESTAÇÃO DAS LETRAS

A Estação é movida a literatura, por isso sempre tem cursos, e bem variados – mais técnicos, mais lúdicos, mais focados no mercado e por aí vai. Os professores são escritores e profissionais experientes, sob a curadoria da Suzana Vargas. Fica em Botafogo.

CCE PUC-RIO

Oferece a pós Formação do Escritor, de 360 horas e ementa teórico-prática, que inclui a produção de um livro ao fim do curso. É preciso sinalizar interesse, já que as turmas dependem de um número mínimo de inscritos. Fica na Gávea.

CASA DO SABER

A Casa do Saber tem um viés mais filosófico, mas com espaço para bons cursos e palestras com escritores e profissionais do mercado. Fica no Leblon. Quem é de São Paulo também pode aproveitar; fica no Itaim Bibi.

Isso sem falar de cursos eventuais espalhados por aí, em livrarias ou mesmo espaços mais informais, como casas e coworkings – em breve, aliás, vamos divulgar os detalhes do nosso primeiro curso voltado a novas autoras.

E como não poderia deixar de ser, aqui vai uma indicação pessoal de oficinas voltadas aos diferentes perfis de autor. Mas é claro que existem outras, por isso fique de olho ^^

Opções de cursos e oficinas

CAROLA SAAVEDRA

A oficina da Carola é sobre romance, e muito bem recomendada. Dura quase 2 meses e te desafia a experimentar uma escrita mais densa, começar ou lapidar seu texto – que é lido e comentado (em parte) durante o curso. [DESTAQUE] A Carola compartilha detalhes do seu processo de sistematização/criação literária, o que ajuda muito quem está começando.

JOÃO CARRASCOZA

Com olhar sensível, Carrascoza se dedica a ensinar sobre os contos (que ele considera pequenos riachos, em comparação ao ‘rio-romance’). O curso explora os recursos do gênero, com momentos dedicados à criação. [DESTAQUE] Contos são a especialidade do autor, que com eles já ganhou alguns dos principais prêmios literários.

FABRÍCIO CARPINEJAR

A praia do Carpinejar é a poesia, com a qual ele lida com muita intimidade. O curso é rápido, mas intenso – tem mergulho na linguagem, auto-exposição e muita troca. [DESTAQUE] Este eu fiz na Estação, e a imersão a que ele nos convida é completa. Pra quem se arrisca na poesia, então, é mais que necessário.

GONÇALO M. TAVARES

A oficina é de ‘literatura e imaginação’! Tem a leveza do Gonçalo, claro, mas só para disfarçar a intensidade das reflexões que ele propõe. A aula é superdinâmica e cheia de trocas, exercícios e muitas descobertas. [DESTAQUE] O olhar do autor sobre o mundo, e como ele ressignifica tudo. Esta eu também fiz, na Flip, e mais que recomendo.

 

[DICA 3] PUBLIQUE-SE AOS POUCOS

Quase todo autor iniciante questiona por que sair se publicando por aí – por que afinal ‘gastar’ seu material em publicações que não o tão sonhado livro. Saiba que nada é mais equivocado.

Para começar, se você deseja ter seu livro publicado por uma editora bacana, que vai apostar nele, precisa antes convencê-la de que tem esse potencial. Ao escritor que está começando pode parecer duro, mas é assim que funciona. Para uma editora, importa muito que um futuro autor da casa tenha iniciativa – e, é claro, leitores.

E isso, a gente sabe, só dá pra conquistar… se publicando!

O processo é mais ou menos simples: começa com alguns (muitos) posts nas redes sociais (ou blog, Wattpad*, o que for!), seguidores que vão surgindo, compartilhamentos… Depois um texto seu que sai num blog mais acessível, depois outro e outro, até ter finalmente um registro mais bacana, num espaço também maior.

Com o tempo (que depende da energia que puder dedicar), você vai encontrar um nicho interessado nos seus textos, e é daí que muitos ganhos podem surgir: desde feedbacks que te farão aprimorar sua escrita, seguidores que vão te ajudar a espalhar seu trabalho, até quem sabe a visibilidade de um editor.

Mas, veja, ainda que o editor não chegue até você, todo esse resultado (que podem ser números de seguidores na sua página social, acessos ao seu blog ou registros em espaços literários) é o que você vai reunir para apresentar junto com o seu original quando abordar uma editora.

O que muitos novos autores não entendem é que esse processo tooodo precisa ser percorrido – e antes, não depois de o livro ser publicado.

É preciso seduzir seu editor com um portfólio que o convença de que você é mais um que um bom autor: mas que é o principal interessado em ver seu livro vendendo e sendo lido ^^

A listinha abaixo indica blogs e portais literários por onde você pode começar esse trabalho:

Sugestões de blogs e portais literários

LITERATURA BR

Portal literário aberto à colaboração nos gêneros conto, crônica e poesia, com edição de Nathan Matos. Orientações para envio aqui.

REVISTA USINA

Revista virtual, sem periodicidade fixa, aberta à publicação de poemas, contos, resenhas e afins. Colaborações pelo link. Acesse os textos já publicados aqui.

PLÁSTICO BOLHA

Jornal de poesia, impresso (eventualmente) e digital. Aberto a autores de todo o país, que podem submeter seus textos pelo link. Publicações também no blog.

REVISTA FLAUBERT

Revista de contos mensal, com edição de Mariel Reis e aberta a colaborações espontâneas aqui. No momento passa por reformulação editorial, com promessa de retornar em breve.

***

E aí, leitor, gostou do texto?

Em breve tem a continuação do post, com as dicas que faltaram.

Se tem alguma dúvida, crítica, depoimento que possa enriquecer nosso debate, comente aí embaixo.

Até o próximo post!

Carolina Drago

dos conselhos

By novos poemas No Comments

Crescer é inevitável e tem me roubado longas noites de sono.

Às vezes só tenho saudade do tempo em que a gente saía da escola e era simples, a gente descia a rampa cantando, a barriga doendo de rir, atravessava a rua sem nem olhar direito pros lados, o pé só seguia, quase uma dança, o olhar era leve, eu pensando nas mitocôndrias da aula, será que vai cair na prova?, me ensina física?, aquele poema…, o mundo era leve e eu era leve, você me segurava a mão e bastava.

Havia uma pureza em acreditar que ia dar certo, tudo ia dar certo, daqui a uns anos a gente casa, daí os filhos, e um cachorro, e uma casa com piscina, 2014, este é o ano, quem se importa com o resto?, a faculdade vai ser um mundo, eu quero descobrir o mundo, mas com você, vem comigo pra gente ser feliz, anda.

Eu andei, você me chamou e eu andei, me chamou a arriscar, a ter certeza e eu tive. Eu descia a rampa na van abrindo o bilhete com pressa, e você com a sua coragem lá longe me olhava e me lia. Meu coração disparou, eu que sonhava com todos os sonhos dentro do meu livro. Depois a gente só seguiu, sem saber bem, eu pelo menos. Queria viver e que desse certo – era simples, não era?

Não.

Não seria simples, nada é simples, nunca é simples.

O mundo vai se revelando, assim, como quem não quer atrapalhar, mas atrapalhando, e te empurra, você só quer um lugar pra sentar, ele te mantém em pé que é pra mostrar logo como vai ser. Você vai deixando de se embalar no caminho, as mãos vão tendo que se apoiar ou então você cai.

Não tem nada de muito romântico no que o mundo exige você ser, nas lágrimas que vão te descabelar, nas palavras que vão te fincar no chão, mas tem que ter, a gente precisa que tenha. A gente precisa se olhar ao fim de um dia doído e ver pra além dos olhos do outro, ver por dentro a magia que é seguir amando apesar da pilha de roupa suja, das contas sobre a mesa e da falta de tempo. A gente precisa ouvir no silêncio as palavras certas, e reconhecer nos vãos de nós mesmos que(m) ainda somos.

É questão de olhar pra mesma calçada e se ver não mais a criança que ri feito boba – mas a mulher que ainda vê graça (no tempo que passa, no invisível, que seja, porque acaba sendo). A mulher que se apoia na pilha de louça só pra servir de suporte pro outro, e que agora caminha olhando pros lados – mas também pro céu, mas também pra dentro.


Crescer é inevitável e vai te roubar longas noites de sono.

Por isso um conselho: só seja gentil, todos os dias, à frente do espelho.