
Até aqui achava que planejar tudo antes me levaria com mais segurança ao meu destino. Lembraria das metas graças aos post’its coloridos espalhados pelos espelhos da casa. Listas previamente criadas para me garantir conforto e paz. Conheceria o chão, sua textura, cor, a altura exata pra não despencar (imagine?). Mas então tudo mudou.
Comecei essa jornada de dentro pra fora, mas um dentro tão novo que eu mal o conhecia. Sem um método claro, e não porque não quisesse ter um, me vi tateando o escuro rumo ao brutal desconhecido. A altura do chão tinha virado um penhasco sobre o qual eu me debruçava com e sem medo. Cada passo era tudo e nada. Finalmente o espelho havia ficado nu, e agora eu me via. Quem sou eu?
O processo de crescer intelectualmente é assim mesmo. “Orgânico”, pra usar um termo da moda. Acompanha a dialética profunda do eu, movimento que nos espreme e lança longe, pra então espremer de novo. Aprender quando já se acreditou estar formado é como estar diante de um amontoado de tijolos que não se encaixam. Ainda.
O começo é quase um caos, pelo menos para mim. Traz desconforto e dor, o contrário da paz e da segurança de antes. Do zero encaixe ao primeiro um por cento leva tempo, mas quando acontece é como um milagre, no sentido de que parece mesmo ter a mão de Deus.
Planejar tudo antes para se chegar com mais segurança ao destino pode parecer sensato aos desavisados, mas não é: saber o que se procura (ou rejeita) é, sim, fundamental na jornada, mas querer dar os passos antes do caminho não parece certo. Ao menos não no aprendizado, esse aprendizado espontâneo, responsável, cujos planos se atualizam a cada minuto (ou assim deveriam), e por isso os post’its caducam tão logo são colados.
Mas isso eu só percebo agora. Talvez porque finalmente sinta o peso do que procuro, e não me contente com nada menos do que o ato.
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